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O envelhecimento populacional é um fenômeno global que está reconfigurando diversos setores da sociedade, e o mercado de trabalho não é exceção. Essa mudança demográfica profunda traz consigo uma série de desafios e oportunidades, exigindo adaptações tanto por parte dos indivíduos quanto das empresas.

No Brasil, o Censo Demográfico de 2022 revela que a proporção de pessoas com 65 anos ou mais aumentou de 7,4% para 10,9% entre os anos de 2010 e 2022. Hoje, são 32,5 milhões de pessoas que fazem parte do grupo. A região Norte é a mais jovem do país, enquanto as regiões Sudeste e Sul apresentam as estruturas mais envelhecidas.

De acordo com outro levantamento, realizado pela LCA Consultoria Econômica, a faixa etária média do trabalhador brasileiro vem subindo nos últimos anos. Em 2023, atingiu 39,3 anos, o segundo maior patamar da pesquisa, atrás apenas de 2020, quando o índice chegou a 39,4 anos. 

Esse acréscimo é explicado pela aposentadoria tardia e pelo fato de jovens estarem priorizando outros projetos de vida. Uma pesquisa da Ernst & Young e da agência Maturi aponta que a participação de profissionais com mais de 50 anos nas empresas deve aumentar até 2040.

No entanto, também há reflexos positivos no ensino superior. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul registra um crescimento na quantidade de alunos com mais de 60 anos. Segundo as informações divulgadas pelo Jornal da Universidade, o número de estudantes nessa faixa etária saltou de 50, em 2012, para 250, no segundo semestre de 2021, expandindo-se em 400%.

Hélio Vicente Fontana, 70 anos, é um exemplo inspirador dessas transformações. Ingressante na UFRGS, em 2020, no curso de Educação do Campo – Ciências da Natureza, ele ressalta que “nunca é tarde para buscar a felicidade estudando”. 

Da mesma forma, Vera Lúcia Pereira dos Santos, 68 anos, retornou à universidade após se aposentar, ao fazer sua matrícula no curso de bacharelado em Teatro com ênfase em Escrita Dramatúrgica. Para ela, “quem não quer mais aprender se aposentou da vida”.

Segundo o Censo da Educação Superior de 2021, o Brasil conta com 43.722 idosos matriculados em cursos de graduação – isso significa um aumento de 55% desde 2012. A UFRGS, assim como outras instituições no país, têm se adaptado para receber e apoiar alunos de todas as idades. 

Graduação para pessoas com 50 anos ou mais: novas oportunidades

A idade não deve ser um fator determinante na escolha de uma carreira. Empresas estão reconhecendo cada vez mais o valor da experiência e da maturidade que profissionais mais velhos podem trazer para o ambiente de trabalho. Inclusive, com vagas específicas direcionadas para pessoas acima de 50 anos. 

Os cursos de Letras e Pedagogia são ideais para os interessados em educação e linguagem. Por sua vez, o curso de Turismo é uma opção para quem gosta de viajar e conhecer novos lugares ou artes visuais, para trabalhar com arte e cultura. Ou ainda Ciências Econômicas, curso que estuda investimentos e finanças.

faculdade de Direito também é uma das mais indicadas e procuradas para pessoas mais velhas, em decorrência de ser um curso bastante tradicional no Brasil, visto como uma formação de prestígio e respeitada pela sociedade. Não há restrições, e, independentemente da escolha, a educação e a qualificação são responsáveis por abrir novos horizontes. 

Como as organizações devem se adaptar a essa nova realidade? 

A Lei 10.355/24, publicada no Diário Oficial do Estado, institui os selos “Empresa Parceira da Terceira Idade” e “Empresa Amiga da Pessoa Idosa”, apoiando as iniciativas de empresas que promovem a integração e o bem-estar dos cidadãos com mais de 60 anos.

O selo “Empresa Parceira da Terceira Idade” é concedido para negócios que contratam e oferecem condições especiais para trabalhadores com mais de 60 anos, como vagas específicas, capacitação e melhora das condições de trabalho.

Por sua vez, o selo “Empresa Amiga da Pessoa Idosa” é destinado a organizações que contribuem para a melhora da qualidade de vida dos idosos de forma mais ampla, seja por meio de ações sociais, apoio a instituições ou campanhas de conscientização, em dois níveis diferentes: 

  • Ouro: empresas que mantêm ou auxiliam instituições que atendem idosos nas áreas de saúde e assistência social.
  • Prata: empresas que realizam campanhas ou ações em prol dos idosos.

Uma estratégia promissora para promover o bem-estar e a autonomia dos idosos é a implementação de soluções agetech, que englobam tecnologias desenvolvidas para as necessidades específicas da terceira idade. Para que essas soluções sejam eficazes, é fundamental que as organizações invistam em programas de capacitação com foco na inclusão digital dos colaboradores 50+. 

Ambev e Unilever são exemplos e pioneiras em programas de estágio para pessoas mais velhas. A prefeitura de Ponta Grossa fechou parceria para beneficiar as pessoas com 60 anos ou mais. O programa chama-se “Estágio +”, e o principal objetivo da parceria, é ajudar as empresas a desenvolverem ações e investimentos em projetos que realmente tenham impacto social. 

Já a Unilever lançou o programa “Senhor Estagiário”, voltado para universitários com mais de 55 anos. As vagas são para estágio em vendas, finanças e supply chain, no estado de São Paulo, demonstrando como o mercado de trabalho está se adaptando às novas realidades.

O trabalho, mesmo que em regime de estágio, proporciona um senso de propósito, pertencimento e valorização pessoal. Os trâmites nesse tipo de contrato são os mesmos do estágio comum: é necessária a assinatura do termo de compromisso entre empresa, instituição de ensino e estudante, sem configurar vínculo de emprego. 

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