O autoconhecimento desempenha um papel crucial em momentos de dor e perda, como no processo de luto. Entender as próprias emoções, reações e necessidades ajuda a enfrentar a morte de um ente querido de maneira mais consciente e equilibrada. O luto é uma experiência profundamente pessoal, e cada indivíduo passa por suas fases de forma única, com seu próprio ritmo. Respeitar esse tempo é essencial para que o luto siga seu curso natural, sem a pressão de “superar” rapidamente.
Segundo a abordagem da Constelação Familiar, o ciclo da vida inclui tanto a vida quanto a morte, e reconhecer esse fato ajuda a aceitar a perda com mais serenidade. Não se trata de ignorar a dor, mas de acolher a realidade de que a morte é uma passagem inevitável e faz parte de nossa existência.
Na visão sistêmica, dar um lugar ao falecido no sistema familiar é uma prática essencial para um luto saudável. Quando reconhecemos e honramos a memória daqueles que partiram, mantemos o vínculo com eles de maneira equilibrada.
De acordo com Bert Hellinger, criador da Constelação Familiar, na “grande alma” não há diferença entre vivos e mortos — ambos influenciam nossas vidas de formas sutis e benéficas. Respeitar os antepassados e aqueles que partiram nos conecta com a força de nosso sistema familiar, trazendo uma sensação de continuidade e pertencimento. Excluir ou ignorar os falecidos pode nos enfraquecer, enquanto honrá-los nos fortalece, ajudando a superar o luto de forma mais harmoniosa e construtiva.
Outra dimensão importante do luto no contexto sistêmico é a liberação do peso emocional que, por vezes, pode ser carregado por gerações. Muitas famílias mantêm “lealdades invisíveis”, que são padrões emocionais transmitidos inconscientemente de um membro para outro. Essas lealdades podem se manifestar como sofrimentos repetidos ou destinos trágicos, como uma forma de honrar aqueles que se foram.
“A prática da Constelação Familiar permite que esses emaranhamentos sejam identificados e liberados, de modo que a dor não se perpetue através das gerações. Ao reconhecer o sofrimento de nossos antepassados, sem carregá-lo como nosso, liberamos espaço para viver de forma mais leve, conectada e sem fardos desnecessários”, explica Cristina Florentino, psicóloga e uma das principais mentoras em psicoterapia, manejo de traumas e Constelação Familiar no Brasil.
Cristina ainda ressalta que o luto é um processo individual, mas que muitas pessoas podem experimentar as mesmas fases, como negação, raiva, negociação, depressão e aceitação, como descreveu a psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross.
“Não necessariamente todos vão passar pelas mesmas fases e elas podem não acontecer de maneira linear, uma seguida da outra. Alguns podem experimentar mais de uma fase ao mesmo tempo, por exemplo”, explica Florentino.
A psicóloga e especialista em Constelação Familiar elencou algumas dicas para lidar este processo de perda. Confira!
Aceitar o ciclo da vida: A morte é parte natural da vida, e entender isso ajuda a lidar com o luto de forma mais serena. Respeite suas emoções e o tempo necessário para processar a perda. Cada pessoa passa pelas fases do luto de maneira única, e pressionar-se para “superar” rapidamente pode prejudicar a cura.
Dar um lugar ao falecido no sistema familiar: Honre a memória do ente querido que partiu, mantendo-o presente em seu coração e no sistema familiar. Esse reconhecimento permite que o amor continue de forma saudável, sem transformar a lembrança em um peso emocional.
Liberação do peso emocional: Muitas vezes, sem perceber, carregamos o peso do luto por gerações. A prática da Constelação Familiar nos ensina a liberar essas emoções e a lidar com a perda de maneira mais leve, conectada e sem que a dor se prolongue por heranças familiares inconscientes.
Respeitar o destino do outro: Aceitar o destino de quem partiu é um passo importante para a cura. Cada pessoa tem seu próprio caminho, e compreender que a jornada do outro seguiu seu curso traz paz e alívio ao processo de luto.
Permitir-se viver plenamente: Continuar vivendo de forma plena é uma maneira de honrar os que partiram. A gratidão pela vida que ainda temos é uma forma de respeitar o ciclo da vida, ao mesmo tempo em que se valoriza a própria existência e as memórias deixadas pelos entes queridos.