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Criolo diz que São Paulo é um “labirinto místico, onde os grafites gritam”. Caetano, na poesia concreta de Sampa, lembra que a cidade surpreende e pulsa em cada esquina: “alguma coisa acontece no meu coração que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João”. Tom Zé homenageia a maior metrópole da América Latina com uma canção icônica, que faz um jogo lúdico com o significado dos lugares: “Quando eu vi que o Largo dos Aflitos não era bastante largo para caber minha aflição, eu fui morar na Estação da Luz, porque estava tudo escuro dentro do meu coração”.

Uma rua é a vida em movimento, vestígios do passado que resiste na arquitetura de prédios e casarões, o presente de quem com seus caminhos traça a história, o futuro que se torna pretérito no instante seguinte. É espaço de trânsito e também de orientação, que situa e possibilita o encontro. No princípio da formação das cidades, a nomeação era feita pela população de forma aleatória, e as construções eram utilizadas como referências. Hoje, uma rua nasce oficialmente por decreto assinado pelo prefeito, publicado no Diário Oficial do Município. 

As ruas estão destacadas em placas, mas a imensa maioria dos paulistanos não faz ideia da história escondida por trás de seus nomes. A pesquisa e o resgate da memória é possível por meio do site Dicionário de Ruas, disponibilizado pelo Arquivo Histórico Municipal de São Paulo. É interessante observar que, mesmo com a voracidade da urbanização, a cidade mantém muitos bairros e ruas com nomes indígenas. Ficou com curiosidade? Conheça a  origem do nome de alguns bairros e ruas da Terra da Garoa. 

Avenida Paulista

A avenida mais famosa de São Paulo foi a primeira a receber asfalto, em 1909. Símbolo da pluralidade paulistana, a via plana, de quase três quilômetros de extensão, é o coração da cidade. Inaugurada em 1891, com o mesmo nome de hoje, o projeto foi fruto da necessidade de expansão para além do centro, região do Triângulo, Campos Elíseos e Praça da República. A urbanização abriu espaço para a passagem de bondes, carruagens e construção de palacetes pertencentes a barões de café, comerciantes ricos e famílias europeias. Alguns desses casarões são históricos, como a Casa das Rosas, construída em 1935 e tombada como patrimônio cultural em 1991, ano do centenário da avenida. 

Em 1927, tentaram mudar o nome para Carlos de Campos, presidente de São Paulo, o equivalente ao cargo de governador. Mas não agradou a população, e a troca foi desfeita três anos depois. Até meados da década de 1950, era uma via residencial, e, após a mudança da legislação de uso e ocupação do solo, apareceram os grandes empreendimentos, prédios modernos que deram identidade cosmopolita à Paulista. 

Muitas casas e apartamentos estão à venda, inclusive, em regiões históricas da cidade. O leilão de imóveis em São Paulo é uma oportunidade de realizar o sonho da casa própria, com descontos que podem chegar até a 60%. Em sites especializados, a pessoa pesquisa a localidade, dá o lance e pode comprar.

Liberdade

O bairro é o maior reduto oriental da cidade; os japoneses começaram a se instalar na região por volta de 1930, mas antes foi ocupado majoritariamente por pessoas negras. Diferentemente do que o nome sugere, o passado da região é macabro. Por conta de uma antiga Casa da Pólvora, construída em 1754, o lugar era conhecido como bairro da pólvora. Onde hoje é a Praça da Liberdade, era chamado de Largo da Forca, cenário de bárbaras execuções de escravos fugitivos. As execuções só pararam quando a pena de enforcamento foi abolida no Brasil, em 1870. O nome Liberdade tem origem na renúncia de D. Pedro I, em 1831. Inicialmente, Liberdade era o nome do chafariz que ampliou para a rua, depois para o bairro todo. 

Ibirapuera

É impressionante constatar como os rios são “enterrados vivos” com a expansão da civilização. São Paulo foi construída sobre uma grande bacia hidrográfica. A região do Parque Ibirapuera foi parte de uma aldeia indígena, em um passado remoto. O terreno de solo de várzea era alagadiço, e Ibirapuera significa “árvore apodrecida” ou “pau podre”, em tupi-guarani. 

Ocupado depois por pastagens e chácaras, o local passou para domínio do município, em 1906. Na década de 1920, um funcionário da prefeitura, Manuel Lopes de Oliveira, encontrou a solução de cultivar plantas, para, com a drenagem natural, reduzir o excesso de umidade; daí surgiu o Parque Ibirapuera. 

25 de Março

O maior centro de compras a céu aberto da América Latina, ponto turístico da cidade, próximo ao Mercado Municipal e à Praça da Sé, já recebeu muitos nomes. A partir de 1865, passou a se chamar Rua 25 de Março, em homenagem à primeira Constituição do Brasil, outorgada por D. Pedro I, em 1824.   

O surpreendente é que a rua, em que hoje trafega um verdadeiro “mar de gente”, com mais 400 mil pessoas por dia, já foi leito de um rio navegável. O Rio Tamanduateí, que em tupi-guarani significa “rio dos tamanduás verdadeiros”, tinha em seu percurso sete voltas, recebia as águas do Anhangabaú e desembocava no Tietê. O Porto Geral ficava na sétima volta, onde desembarcam produtos importados oriundos do Porto de Santos.

Colaboradora do Folha Geral - cada publicação é de responsabilidade da autora